cartografias imaginárias
A Arte da Legitimação
Os Homens constroem mapas para levantar cidades.
A cartografia aparece como forma de legitimação do território, de criação e apropriação de lugares. Apropriação meramente física que se preocupava em estabelecer uma ordem e, ao mesmo tempo, construir uma unidade e identidade para aquele lugar. Ora, desta maneira, o mapa sempre foi uma tentativa de conectar pontos, estando sempre passível a constantes mudanças e modificações.
O mapa como rizoma, aberto, conectável em todas as direcções, desmontável, com entradas múltiplas.
Essa experimentação directa sobre o real dá azo, claro está, a diferentes tipos de cartografias e registos. Estes mapas apresentados, longe de serem uma construção física e ordenada de um lugar, estão assentes numa geografia enraizada num valor onírico subjectivo e particular. Tal como os lugares são criações humanas, também o seu registo o será. Assim, passa-se da imagem que se vê para a imagem que se vive. Os espaços são contemplados como intersecções e ligações de quotidiano, de minúsculos pontos-mundo. Os mapas são vistos como acumulações de quotidianos, de percepções, de possibilidades.
Desterritorializando o espaço, desconstruindo-o nos seus ínfimos e íntimos pedaços, reterritorializamo-lo como um espaço vida que constantemente é outro. Essa desterritorialização e reterritorialização, transformando-o num espaço outro é uma forma privilegiada de legitimação, pois será uma legitimação íntima, abarcando inúmeras linhas de fuga. O lugar físico passa a ser qualitativo.
Calcorreando espaços existentes, cria-se assim uma cartografia feita de devaneios sensoriais e pessoais, tanto sobre a forma de texto como de desenho, instintivo, vivenciado.
Neste mapa não interessa até onde podemos chegar, interessa a viagem, continuar, descobrindo sempre pretextos para seguir, num convite a interpretações pessoais, não comprometidas, que fujam da unanimidade. Enfim, interpretações erróneas, divergentes, pois estas são sempre ilimitadas, sem fronteiras.